sexta-feira, 23 de maio de 2014

De volta...


Tudo que acontece na vida de uma pessoa pode mudar de significado com o passar do tempo.

Aquela pessoa que vc encontrou e que na hora te fez sentir um arrepio percorrendo teu ser inteiro, não só no corpo, mas um arrepio de alma... E depois cada um seguiu. Sem nada mais que um olhar e uma sensação. 
E a vida trouxe outras sensações. Outras emoções. Talvez um vazio. Talvez algo que parecia muito bom. Que foi bom até.  E vc estava ali, se deixando levar por sua vida, seus amigos, seus interesses, um amor, uma realidade confortável e confortante.  De repente seu olhar esbarra novamente naquela pessoa. Podem ter passado 10 anos ou 10 meses. Ou 10 vidas. Eu tenho a certeza que por um relâmpago, um tempo-espaço quântico, uma centelha, um milissegundo, as almas se reconheceram.  Aquele momento no qual a gente diz: eu sei que é você. E vc sabe que sou eu.  Não sei como explicar, mas sei. E o tempo que passou, tudo que aconteceu nas 10 vidas, dez anos ou dez meses parece uma parêntesis, boa, ruim, intensa, verdadeira, feliz ou infeliz ou tudo isso ao mesmo tempo. Mas sempre um parêntesis entre os dois momentos nos quais estas duas almas estiveram juntas. 
Isso é muito forte. Isso supera qualquer expectativa e deixa vã qualquer tentativa de explicação. Mas a sensação que temos é de estar de volta em casa. De estar no nosso lugar. De novo.





Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde.Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.

Caio F Abreu

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Então, tá tudo aí: um coração restou acelerado e desobediente, desaforado, inconveniente. Não se pode sistematizar sentimentos ou banalizar emoções: nele tudo está em sintonia com a hipérbole maciça e, para qualquer paixão inclemente, ele não sente a menor preguiça: se enrosca no osso da emoção, rói a carne, range os dentes, urra noturna e diariamente. Este coração está desgovernado, não se pode negociar um trecho de cuidado, uma brecha de precaução. Tudo o que ele abraça é barulho, imagem turva, ventania, comoção. Tá tudo aí: o ruído que você deixou e um resto de trecos atirados pelo chão. Tudo que as tempestades derrubaram ele abrigou. Veja quanto entulho, quantas verdades distorcidas, quanta indecisão. Então, tá tudo aí: um coração desatinado, indisciplinado, indiscreto, indócil, indecente. Tá enchendo o peito de velharia, entupindo a aorta de putaria, derramando pra tudo que é lado sarcasmo e rancor. Este coração foi tudo que restou: equivocado, anda chamando desilusão de amor.

Marla de Queiroz